A BBC
costuma ser tradicional, tanto em enredo, quanto em narrativa, quando
o assunto são suas séries de TV. A história da emissora, sua
natureza e sua forma de organização, impediram que ela fosse uma
emissora revolucionária. Em geral, o sistema funciona. O público
dela também não é exatamente o que pode ser chamado de 'liberal'.
Contudo, quando a questão é produzir uma adaptação de uma
história que já é amplamente conhecida pelo público, ser
tradicional significa fracasso certo.
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Os três mosqueteiros e dArtagnan (Divulgação/BBC) |
E quando
o enredo em questão é um clássico que praticamente criou os
clichés narrativos que surgiram depois dele, aí os produtores sabem
que têm um problema. A adaptação que a BBC One resolveu fazer para
o clássico de Alexander Dumas, Os Três Mosqueteiros, estreiou
comigo torcendo o nariz e com os dois pés atrás com relação a
ele.
Eu já esperava a história do livro apenas transcrita para a
tela. Infelizmente, The Musketeers conseguiu decepcionar ainda
mais do que já era esperado, e entrou direto para o roll de piores
adaptações de todos os tempos. O motivo? Praticamente tudo o que se
viu na tela.
Além da
chuva de clichés, as atuações fracas de quase todos no elenco (a
exceção foi Rayan Gage, que interpreta o Rei Luís XIII) e a falta
de inovação no que diz respeito à técnica foram os maiores
problemas enfrentados pelo seriado. O D'Artagnan de Luke Pasqualino é
a sintese do herói clássico, que consegue, já no primeiro
episódio, resolver o problema que todos consideravam perdido. O mais
inovador a respeito dele é o corte de cabelo, que provavelmente
queria dar um ar mais jovem, mas no período histórico em questão
se tornou apenas bizarro.
Os
demais personagem sofrem para encontrar um caminho, no meio de uma
história que dá, o tempo todo, a impressão de já ter sido
contada. Alguns dos atores talvez tivessem uma performance mais
digna, se não fosse pelo texto sofrível. De fato, o Cardeal
Richelieu de Peter Capaldi talvez fosse mais convincente, mas com
aquelas falas ele é mais bem sucedido em fazer rir, do que em
despertar a rejeição que um bom vilão deveria ter.
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Maimie McCoy interpreta Milady (Divulgação/BBC) |
Claro,
nem tudo são horrores no primeiro episódio da série. Um dos
maiores pontos positivos foi a opção que os produtores fizeram por
personagem femininas tão fortes quanto os protagonistas. Milady
(Maimie McCoy) foi o ponto alto do episódio e a habilidade dela com
a faca pode ser a redenção dessa temporada. Em um universo tão
masculino quanto o dos mosqueiteiros do rei é um alivio encontrar
uma dama em tão boa forma.
João Guilherme Lobasz